O que me falta…

Ômar Souki
“Tem mais presença em mim o que me falta”, frase do poeta Manuel de Barros. A verdade ali expressa mexeu comigo. Não é assim com a gente? Aquilo que nos falta tende a nos dominar, a ter mais presença. Quando oramos pedimos a Deus as coisas que ainda não temos e até nos esquecemos de agradecer pelo que somos e possuímos. Quando comentamos sobre outras pessoas, em geral, falamos mais dos defeitos do que das qualidades. Pessoas que tiveram infâncias difíceis—como meu pai, por exemplo—contam histórias sobre a falta de dinheiro, o andar sem sapatos, os natais sem presentes, etc. Mas, mesmo os que têm praticamente tudo, estão sempre pensando naquilo que os outros têm mais do que eles. Parece que a grama do outro lado da cerca está sempre mais verde. Esse foco nas coisas que nos faltam causa insatisfação com a vida. Como lidar com isso?
A psicóloga Thaiana Brotto explica: “As redes sociais e incentivo ao consumismo colocaram na cabeça de muitos que é preciso sempre buscar mais. Mais dinheiro, mais experiências de vida, mais roupas, mais relacionamentos, mais horas de trabalho”. Não há nada de errado em buscar crescer como pessoa e como profissional, mas a preocupação obsessiva em ter sempre mais pode causar níveis elevados de estresse, o que provoca o aparecimento de emoções, pensamentos e comportamentos negativos. Encontrei no site br.mundopsicologos.com algumas dicas para lidar com a insatisfação crônica:
“Estabelecer metas coerentes com sua trajetória e valores pessoais, evitando fazer comparações com a vida alheia.
“Criar o hábito de agradecer: todos os dias antes de dormir, anote 3 coisas que realmente deixam você grato. Ao fazer isso, pouco a pouco você ará a reconhecer e a valorizar o que tem de bom.
“Olhar para trás: procure lembrar de onde você veio, tudo o que já fez para chegar até aqui. Esse exercício pode fazer com que veja o longo caminho percorrido. Muitas vezes, o mais importante não é o que conquistou, mas o esforço feito, os aprendizados adquiridos e a pessoa que se tornou ao longo dos anos. Certamente você tem uma trajetória bonita e deveria sentir orgulho dela.
“Focar no essencial: deixe de querer sempre mais. Aprenda a detectar o que é superficial para então descartá-lo. Descubra o que faz você realmente feliz e concentre-se nisso”.
Ao o que investimos mais em nossa espiritualidade, através de uma maior intimidade com Deus, amos a aceitar o fato de que a perfeição só será alcançada no Céu. Não só acolhemos a ideia de que não precisamos ser perfeitos para sermos amados, mas que muitas coisas que nos faltam podem ser verdadeiras bênçãos. O próprio Manuel de Barros nos garante: “A maior riqueza do homem é sua incompletude”.