Laços eternos

Ômar Souki
“Eu e o Pai somos Um!”, disse Jesus (João 10, 30). A unidade da criatura com o Criador pera capítulo por capítulo das Sagradas Escrituras. Há quem diga que a Bíblia é um poema de amor do Pai Celestial pela criação. No batismo do Filho assim se expressa o Pai: “Este é o meu Filho muito amado, em quem coloco todo o meu agrado!” (Mateus 3, 17). Não há como fugirmos dos laços que nos unem às outras criaturas, à criação e ao Criador. Quanto mais entranhada estiver em nós a consciência dessa união, mais fortes e felizes seremos. E, pelo contrário, quanto menor for a percepção dessa verdade, mais frágeis e infelizes. Faça uma retrospectiva de sua vida e avalie o quanto você tem dependido da colaboração dos outros em cada uma das principais dimensões da existência: emocional, espiritual, intelectual e física.
Quando nos sentimos acolhidos e respeitados, nosso coração fica mais leve e as emoções positivas brotam no jardim da vida: gratidão, coragem, amor, afeto, carinho, bem-estar, alegria, felicidade, vontade de perdoar e de crescer. Mas, ao sermos rejeitados, aparecem emoções negativas: medo, tristeza, raiva, insegurança, incerteza, fraqueza, desânimo, preguiça, vontade de vingança e desespero.
Sermos acolhidos ou rejeitados são experiências que, em grande parte, dependem de nós mesmos. Com o ar dos anos nos tornamos mais humildes e menos pretenciosos, mais predispostos a escutar, a perdoar e a ajudar. Isso aumenta as possibilidades de sermos acolhidos e a desfrutarmos de relações mais duradouras. Antes de partir, Jesus nos fez o seguinte pedido: “Amem-se uns aos outros, como eu lhes amei” (João 13, 34). Esse é o seu novo mandamento, que substitui os demais, porque o amor que ele nos demonstrou—isto é, o de entregar a sua própria vida por nós—é o suprassumo da vivência da unidade. Quando conseguirmos chegar a esse nível estaremos nos identificando plenamente com o Criador, com as criaturas e com a criação. É justamente o que observamos na vida dos santos: uma entrega total ao bem-estar de seus semelhantes.
Não importa qual seja o santo, de Francisco de Assis a Carlo Acutis, ou de Teresa d´Ávila a Madre Teresa de Calcutá, o zelo pelos semelhantes impera em suas vidas. Simplesmente seguiram o que está presente nas Sagradas Escrituras: “Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito” (Colossenses 3, 14). “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (I João 4, 8). “Sobretudo, amem-se sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa muitíssimos pecados” (I Pedro 4, 8). “O ódio provoca dissensão, mas o amor cobre todos os pecados” (Provérbios 10, 12).
A força que mantém os astros no firmamento e impede que o caos se manifeste, é a mesma que rege nossos relacionamentos. A opção pelo amor, pelo perdão, pelo afeto e pelo carinho tem pavimentado a estrada que leva os santos para o Céu. É—sem a menor sombra de dúvida—a escolha que nos oferece a oportunidade de criar laços eternos nesta breve agem pelo planeta.