Fazendo da maturidade a melhor idade

Ômar Souki
Quando, no ano 2000, meu pai, Acácio, completou 80 anos, eu lhe perguntei: “Como o senhor chegou até aqui?”. Resposta: “Aos trancos e barrancos”. Na época, com os meus 52 anos de juventude, pensei: “Não quero chegar aos 80 aos ‘trancos e barrancos’”. Agora, em 2024, já com 75, olho para trás e me pergunto: “Como foram vividos os meus últimos 23 anos?”. Foram focados em escrever, lecionar, palestrar, malhar, viajar, rezar e amar. Vivendo um dia de cada vez, preenchendo diferentes papéis: eu mesmo, esposo, pai, irmão, escritor, professor, palestrante e inspirador. Procurei me organizar e crescer respeitando as minhas limitações de energia, tempo e espaço—vencendo, com paciência, os desafios que encontro pelo caminho. Compreendi melhor o que papai queria dizer quando disse que a vida é povoada de “trancos e barrancos”.
De fato—por mais que planejarmos e organizarmos nossas ações—teremos sempre de enfrentar surpresas desagradáveis: doenças, separações, acidentes, mortes e litígios. O que fazer então? Aprofundarmos a nossa entrega a algo maior que nós mesmos: a espiritualidade. A minha alma começou a se enamorar do Criador em 2003, quando eu tinha 55 anos e descobri, em um retiro com Thomas Keating—monge beneditino—o poder da contemplação silenciosa. Autor da obra, Intimidade com Deus (Editora Paulus), Keating nos convida a abrir diariamente dois espaços para aprofundar nosso convívio com o Supremo Bem—pela manhã e ao anoitecer. Podem variar de 15 a 20 minutos: são momentos de respiração profunda e escuta ao que o Divino Mestre tem para nos dizer. Depois que ei a mergulhar nesse oceano de paz, que é o Sagrado Coração de Jesus, as questões do cotidiano—não desapareceram—mas diminuíram consideravelmente de tamanho. Enfim, os “trancos e barrancos” foram perdendo a sua força.
Depois de cinco anos praticando a contemplação, em 2008, eu, já com os meus 60, descobri o Vale da Imaculada Conceição, em Piedade dos Gerais, Minas. Uma comunidade de 80 casas e 200 moradores, que recebe mensalmente mensagens vindas do Céu. Nossa Senhora aparece para Marilda Santana e oferece orientações para o nosso bem viver. Aí permaneci por dez anos e aprendi o valor da oração diária do Santo Terço. Foi assim que, com a prática frequente da oração silenciosa, fui conduzido à contemplação da vida de Jesus Cristo por meio das contas do terço. Quando acordo antes da hora: terço. Ao trafegar pela cidade: terço. Ao ter de esperar na fila do supermercado: terço. Assim é que eu encontro tempo para completar—dia após dia—a trajetória do Homem-Deus sobre a Terra: nascimento, vida pública, paixão e ressurreição.
Portanto, não importa quão avançado você esteja em sua idade cronológica—ou quão produtiva tenha sido a sua vida—procure, a partir de hoje, a cada dia, encontrar tempo para Deus. Ele é o único que poderá fazer de sua maturidade, a sua melhor idade. Mesmo que até agora a sua existência tenha sido uma sequência de “trancos e barrancos”, pare, faça silêncio—escute o que o Todo Poderoso tem para lhe dizer—e pegue, com fé, no seu terço: suplique à Mãe de Jesus que oriente os seus os pelos caminhos tortuosos deste mundo.